
CARTA PASTORAL 2023
Ao XVI Concílio Diocesano, reunido 05 de agosto de 2023, online.
“Porque Deus não nos deu o espírito de medo, mas de fortaleza, e de amor e de sobriedade.” (2ºTim.1,7)
- Saudação – Irmãs e irmãos, sejam muito bem vindas/os a este momento de encontro, de partilha e. Hoje realizamos o nosso XVI Concílio. Aqui nos reunimos, de forma online. Infelizmente não conseguimos nos reunir presencialmente, no mês de junho, quando seríamos acolhidas e acolhidos pela Catedral de São Tiago e pela Paróquia de São Pedro, lideradas pelos seus clérigos Revdo Glauber e Revdo Gregório, respectivamente. Mas agradecemos todo o trabalho organizado. Nossa oração e desejo é que este Concílio seja um tempo de reafirmação de nossos compromissos com a Igreja Diocesana e fortalecimento de nosso caminhar juntos, construindo uma diocese que, onde quer que esteja, testemunha, com coragem, o reinado de Deus.
- Tema: Após diálogo, considerações e votação pelo Conselho Diocesano, foi definido o tema para este Concílio: CORAGEM PARA TESTEMUNHAR! Assim, diante da ousadia que essa afirmação requer, trago alguns pontos para iniciarmos nossa reflexão, pois esse tema será nosso fio condutor por um tempo na diocese. Na Bíblia, a palavra coragem refere-se à firmeza de espírito para enfrentar a vida; e a palavra testemunha é tradução do termo grego mártyr/ Sendo assim, um mártir – para nós, cristãos – significa aquele que testemunhou a sua fé de modo radical. O martírio acontece quando alguém está disposto a sofrer adversidades, ou mesmo deixar-se morrer pela fidelidade e por amor a Deus e aos outros. E nós somos testemunhas de Cristo e, consequentemente, precisamos viver com intensidade e disposição a missão para a qual somos chamadas/os. Coragem para Testemunhar é ter firmeza para anunciar a Boa Nova de Cristo até as últimas consequências; é viver na força do Espírito Santo; é difundir e defender a fé iluminados pela Palavra de Deus e por ações transformadoras, como pessoas escolhidas e amadas de Cristo, que confessam e anunciam com valentia o nome dEle. Mas, como achar força para continuar ou recuperar a coragem de testemunhar? Eu responderia: resgatando a alegria do amor de Deus que nos chamou à vida cristã, dando-nos a possibilidade para compartilharmos nossos dons. Vamos trazer à memória quais foram as primeiras motivações que nos impulsionaram a vivermos nossa fé no anglicanismo e para exercermos nossos ministério nas comunidades onde estamos? O que nos motiva ainda hoje? Por que continuamos com coragem na caminhada? Certamente encontraremos a esperança que ainda habita em nós, a exemplo da sarça em chama, que não se consumiu (Êxodo3,1-6). Movidos/as por essa memória, saberemos renovar nossa aliança, nosso amor, nossa alegria de anunciar e testemunhar Cristo na missão, guiados pelo Espírito Santo, autor, fonte e origem da missão.
- Diocese: Vinte anos atrás, com certeza, já havia grupos de trabalhos para organizar e acolher irmãs e irmãos que estariam, em Curitiba, para Instalar a Diocese Anglicana de Curitiba(seu primeiro nome). Muitos desafios, sonhos e a alegria de poder celebrar a concretização de um árduo trabalho de muitas lideranças que desejavam ter uma Diocese no Estado do Paraná. E o que é uma DIOCESE? Se formos ao dicionário, encontraremos: Diocese é a forma como a Igreja se organiza pastoral e territorialmente em todo o mundo. Em nossos Cânones consta a seguinte definição: Diocese é uma área eclesiástica reconhecida pelo Sínodo da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, doravante simplesmente denominada IEAB, sob a jurisdição de um(a) Bispo(a). Destaco o texto do Prof. David Ford, teólogo irlandês, leigo anglicano, que escreveu sobre diocese. Esse estudioso ressalta quatro marcas básicas de uma Diocese Anglicana, sendo elas:
- 1- A diocese deve procurar crescer em unidade, com prática solidária de suas responsabilidades (Ef 3:20; 4:1-6). Isso envolve encontros e reuniões, essenciais para a construção de estratégias comuns, que devem estar presentes atualmente e no futuro da Igreja. Assim, somos chamadas/os para junto/as continuarmos construindo uma Diocese forte. Aqui lembro a motivação do primeiro Concílio em 2003: “Estamos construindo uma diocese, uma grande Diocese”!
- 2- A diocese deve dar prioridade à transformação espiritual, por meio da adoração, da liturgia e do acompanhamento de diversas vocações. Devemos dar ênfase ao elo entre as estruturas, a liturgia e os diversos ministérios das lideranças nas mais diversas áreas. Sem vivenciarem o exercício de sua fé, cada Paróquia/Missão diocesana não conseguirá sozinha ajudar as pessoas que adentram seus espaços. Será necessário um “avivamento” em nossas celebrações, em nossos momentos de espiritualidades!
- 3- A diocese precisa compreender o “alcance católico de Cristo na Igreja e no mundo”, ou seja, deve promover meios de participações da estrutura eclesial na vida de Cristo, olhando também, e necessariamente, para além das estruturas. Nesse aspecto, destacamos o auto sustento partilhado, a vocação ecumênica anglicana e a preocupação de cada Paróquia e Missão com a sede diocesana como consequências práticas da compreensão de Diocese. E a Diocese, como “unidade básica da Igreja”, em nossa compreensão eclesiológica, poderá e deverá assegurar que as estruturas e programas diocesanos oportunizem a cada membro um espaço onde possa partilhar seus dons e talentos. Destacamos a responsabilidade Cristã e a contribuição/dízimo como padrão ideal de construção para o sustento da Igreja.
- 4- A diocese deverá lembrar as suas comunidades (Paróquias, Missões, Projetos sociais) a respeito do caráter apostólico do seu chamado, que envolve Convite, Acolhida e Ensino. E deverá ter uma missão voltada a todas as áreas das sociedades, tanto as consideradas privilegiadas quanto as que vivenciam exclusão e desespero. As lideranças da Igreja deverão ser encorajadas a ter momentos de oração e ações de transformação das vidas que sofrem diversas exclusões. Destacamos aqui o fortalecimento para a Missão e expansão, em todas as áreas diocesanas!
E nós, o que diríamos?? Reafirmo o que sempre digo: Diocese somos todos nós! Eu e vocês!! OU será que cada pessoa aqui ainda possui uma restrita ideia de diocese, restrita à figuras da Bispa, do Secretário diocesano e do tesoureiro?!
Em meu primeiro ano de episcopado, 2022, planejei visitar toda a diocese. Esta nossa pequena e grande diocese! Pequena porque teremos de avançar muito para estar em diversos lugares de nosso Paraná; grande porque partindo de Curitiba são mais de 11 horas para chegar até à região oeste da diocese. Consegui estar em todas as comunidades diocesanas! E eu sempre declarei/afirmei/ que estava ali, em um primeiro momento, para ver e ouvir!! E essa peregrinação foi muito boa. Vi muitas coisas positivas e importantes em uma diocese que vive a Igreja com paixão! Na verdade, já conhecia todos os lugares, pois há 15 anos estive na DAPAR por quatro anos, desempenhado outra função.
A maioria das comunidades encontra-se envolvida em ações concretas, vivenciando pelo menos 3 marcas da Missão Anglicana, as quais somos desafiada/os a praticar, sendo elas: (a) Responder às necessidades humanas com amor. (b) Procurar a transformação das estruturas injustas da sociedade, desafiar toda espécie de violência, e buscar a paz e a reconciliação e (c) Lutar para salvaguardar a integridade da Criação, sustentar e renovar a vida da terra. Que belo exemplo damos, não estamos em muitos lugares, mas onde estamos temos contribuído para a transformação de vidas!! Durante as visitas realizadas, ouvi falas sinceras, preocupadas e atentas à vida da Igreja diocesana em todos lugares. Quero destacar a alegria de ver nossas irmãs e nossos irmãos com verdadeiro sentimento de pertença à IEAB/DAPAR. Contudo, não posso deixar de relatar também a minha preocupação em ouvir: Bispa, precisamos ouvir e falar mais sobre responsabilidade cristã (contribuição) , precisamos vivenciar mais experiências de oração, grupos de estudos bíblicos, ter ações que utilizem nossos espaços para apoio às pessoas (salões paroquiais), fortalecer parcerias em ações diaconais. Entendo que essas falas compartilhadas já poderão nos dar pistas para um planejamento Diocesano e Paroquial que envolve três eixos bem claros: Responsabilidade Cristã, Sustentabilidade e Formação(ensino).
Diante do vivenciado, ouso dizer: Vamos relembrar nossas muitas reuniões de primeiros passos para processos de Planejamento Estratégico Nacional e Diocesano – isso há mais de vinte anos, na Igreja Nacional, e há vinte anos na Igreja Diocesana. Assim, sinto-me desafiada a trazer à lembrança o método VER, JULGAR e AGIR. Entretanto, proponho uma releitura ou uma leitura contextualizada desse método: 1-VER – precisamos ter muito claro quanto somos, onde estamos e o que temos; 2-JULGAR – o que nos é importante e nos desafia a mudar o que temos; 3- AGIR – iniciarmos pequenas e eficientes ações, que transformem nossas Paróquias e Missões em Comunidades fortes, vibrantes e envolvidas na Missão. É necessário e urgente termos um diagnóstico da Diocese Anglicana do Paraná. Assim, vamos realizar um Censo Diocesano e para isso contamos com o apoio de todas as pessoas, lideranças clericais e laicas! Além do ver, julgar e agir, vamos avaliar também nossas ações! Não precisamos ter medo de detectar o que não conseguimos fazer, vamos buscar aprimorar nossas ações!
Já fizemos muito, mas há muito a ser feito/alcançado! Talvez estejamos com nossos pés e braços cansados, mas precisamos seguir e revisar constantemente nossas ações. Lembremos Cora Coralina em uma de suas belas poesias: “Desistir… eu já pensei seriamente nisso, mas nunca me levei realmente a sério; é que tem mais chão nos meus olhos do que o cansaço nas minhas pernas, mais esperança nos meus passos do que tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça.” Assim, sigamos em frente! Desistir jamais!!
Quando considerei estar com vocês, entrando nesta ciranda diocesana, orei muito para discernir e decidir se , de fato, deveria vir sonhar e concretizar sonhos junto com cada irmã e irmão, parte da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, neste lugar. Foi nesse espírito que vim, com o desejo e a esperança de poder compartilhar meus dons e ajudá-los a “girar a roda desta parte da IEAB”, que já está aqui no Paraná há mais de 80 anos, tendo iniciado sua expansão na região norte, em Londrina (lugar com um grande potencial para se viver nosso jeito de ser anglicano); presente também em Maringá (missão que se caracteriza pela fidelidade familiar, anglicana e mais recentemente por sua prática na diaconia), e Curitiba ( que completou 71 anos de presença na cidade, enfrenta diariamente muitos desafios de Missão em meio a grandes construções de cimento – realidade que nos convoca à desacomodação para viver concretamente uma Igreja Segura a cada dia). Seguimos para região Oeste do Paraná: 1.Cascavel- onde chegamos há mais de 60 anos, com uma tradição vinda de pequenos agricultores do RS, construindo Igrejas e vivendo as experiências de uma igreja familiar. Pessoas que partiram para a expansão, alcançando Palotina, Marechal Rondon e Foz do Iguaçu. Em cada lugar um jeito próprio de viver a IEAB, através do olhar para fora dos templos, buscando atender as necessidades dos excluídos e fortalecendo parcerias. Em decorrência da força de nossas irmãs e irmãos que, com coragem, ousaram testemunhar o Evangelho de Cristo em diferentes regiões do Paraná, aqui estamos nós, sendo desafiados a fazer o mesmo! Desse modo, estimado povo de Deus, desejo, junto com vocês, continuar trabalhando na concretização dos desafios propostos nas 5 marcas da Missão e no contexto “Igreja de Deus para o mundo de Deus”(tema da última conferência de Bispas e Bispos da Comunhão Anglicana). A Igreja Nacional (IEAB) nos desafiou no último Sínodo a fortalecermos as temáticas SERVIR, TESTEMUNHAR E RECONCILIAR e, enquanto Diocese, continuamos a trabalhar nos eixos do Planejamento Estratégico: Missão, Diaconia e Sustentabilidade.
Assim, minhas irmãs e irmãos, somos chamadas/dos a seguir caminhando juntos, com ênfase nos seguintes pontos:
- continuar desenvolvendo educação continuada para o clero e lideranças leigas (Ministério Leigo, Acólitos, Sodalício do Altar, UJAB, UMEAB, Educação Cristã para Crianças e Adultos)
- continuar engajados em ações que busquem fortalecer nosso compromisso cristão, especialmente na temática da Responsabilidade Cristã;
- Realizar um censo diocesano, ainda em 2023.
- Fortalecer nossas ações diaconais, nos diferentes lugares diocesanos, e nos envolvermos nas ações da ABESP (Associação Beneficente Solidariedade e Paz), nosso braço diaconal diocesano.
- Buscar oportunidades para termos nossos Templos abertos durante a semana e planejar atividades que promovam acolhida, testemunho e visibilidade para nossa Igreja, Paróquias e Missões.
Finalizo, trazendo a beleza e a força das palavras de Fernando Teixeira Andrade Pessoa (pelo menos a ele atribuídas):
“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”
Assim, continuemos com muita coragem para testemunhar a Igreja de Cristo, iluminados pela Palavra de Deus, que hoje nos motiva a partir do texto de 2ºTimóteo 1,7.
“Porque Deus não nos deu o espírito de medo, mas de fortaleza, de amor e de sobriedade.”
Que assim seja. Amém.
Magda Guedes Pereira
Bispa Diocesana